Os golaços minguaram, feitos em lances individuais ou aqueles chutes cheios de veneno, faltas batidas com força e muita curva. Os dribles que entortaram e encantaram muitos gringos. As tabelas mágicas que foram contadas e recontadas por anos, nos bares e jantares, antes e depois das peladas e nas varandas das casas, ou na beira das calçadas, quando Pais, Tios ou Avós cuidavam com esmero da formação de novas gerações de torcedores dos seus Clubes de coração, prendendo com aquelas narrativas a atenção da piazada, que após escutarem com atenção, saiam correndo afoitos para mais uma pelada. Um sempre carregando a bola, outro gritando a divisão das equipes, outros já imaginando que repetiriam, no magistral campinho de terra batida cheio de imperfeições, buracos, touceiras, mas que naqueles momentos inesquecíveis, era o estádio mais importante de todos. O campo esburacado que virava o melhor gramado do mundo e que mudava de nome a cada partida, dependendo do que acontecia no mundo do futebol. Ora era o Joaquim Américo, no dia seguinte era a Vila Capanema, tornava-se La Bombonera e em seguida o San Siro, para voltar as araucárias e ser chamado de Belfort Duarte, com seus dias de Maracanã e outros de Willie Davids. Tudo dentro da magia e encantamento que uma bola e alguns garotos reunidos conseguem criar. O tempo passou, o futebol mudou, o dinheiro envolvido aumentou muito e aos poucos perdemos a hegemonia, a magia e os vínculos que uniam atletas, torcida e Clube. Surgiram as “grandes contratações”, os inúmeros treinos semanais, a exigência de muita capacidade física e as malditas pranchetas. Veio também a modernização das transmissões, os closes, as câmeras que capturaram com esmero o momento da comemoração e a oportunidade de um extra, ajoelhando, erguendo os braços, bem em frente a placa de um patrocinador. Começou a era da extrema individualidade, o culto ao personalismo. Cabelinhos coloridos, penteados diferentões, chuteiras exclusivas e muita, mas muita marra. Os acontecimentos não seguiram exatamente nessa ordem e existem muitas outras causas que nos trouxeram a este momento infeliz do futebol brasileiro, mas a narrativa serve para chegar ao ponto que deu nome à esta Coluna. É muito ridículo assistir um atleta, treinado para jogar, enfrentar os marcadores, acostumado a divididas e muito contato físico, atirar-se ao chão após um peteleco. Assistimos a bizarrices semelhantes em todos os jogos e o lance da partida Bahia x Jacuipense foi emblemático. O árbitro expulsou o “agressor” e nada foi feito em relação ao artista. Somos marcados pelos grandes saltos, pelos corpos rolando e contorcendo-se como se a morte estivesse chegando ou se a perna fosse amputada no lance, para menos de um minuto depois o mesmo atleta levantar e correr como se fosse outra pessoa. Diretores, técnicos e aquela infinidade de membros de comissões técnicas e staff, tem que conversar com os garotos, o VAR tem que funcionar, os árbitros precisam evoluir e quem sabe, se o Carnaval permitir, nossos craques voltem a vencer alguma coisa ou seremos derrotados pelo impacto de um peteleco?
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