Falta motivação, enquanto sobram preleções e palestras motivacionais, faltam compromisso e dedicação, enquanto sobram longos contratos, belos salários e grandes mordomias. Sobram tatuagens, penteados, adereços brilhantes e coloridos, enquanto faltam cultura, educação e exemplos. Falta palavra, enquanto sobram promessas e declarações de amor eterno. Com raras e honrosas exceções, acompanhar transmissões de jogos, comentários e entrevistas em nosso país tropical, vendo e ouvindo nossos valorosos atletas é uma sessão de tortura para todos que procuram no esporte algo mais que apenas a cura de algumas feridas através de vitórias fortuitas. Torcer por seu time é maravilhoso, independente de grandes vitórias e títulos, encontrar uma paixão, identificar-se com as cores de um time, criar laços de amizade e companheirismo com pessoas que escolheram a mesma equipe para torcer. Ter ídolos. Desopilar, gritando loucamente, pulando, vibrando ou esmurrando o ar, no estádio ou em frente a televisão, sob olhares perplexos de familiares ou rodeado de outros surtados iguais a você, faz bem, libera demônios e nos deixa leves. Mas uma engrenagem muito azeitada, desvirtua tudo isso e enfia goela abaixo muitos jogos, cria rivalidades e inventa craques. Atletas que iniciaram ontem sua trajetória profissional, acertaram dois passes, um lançamento e fizeram um gol, tornam-se, da noite para o dia, fundamentais para qualquer projeto vencedor e assistimos seu valor subir enquanto ele muda o jeito de vestir, de andar, de tratar a todos. Hoje marca o gol e beija o escudo, amanhã sai chutando tudo e xingando porque foi substituído. Hoje na entrevista diz que deve tudo ao Clube, ao seu atual técnico e ao Presidente, amanhã assina um pré-contrato na sombra e depois de amanhã nega tudo ou aparece com a camisa do novo Clube, sorrindo e fazendo novas, mas não inéditas, juras de amor eterno. Paralelo a essas atitudes menores dos atletas, técnicos repetem fiascos cotidianamente. Chutam os microfones e garrafinhas, berram na cara do quarto árbitro, azucrinam bandeiras e xingam árbitros. Mas quando perguntados sobre as falhas e carências de suas equipes, torcem o nariz, reviram os olhos, algumas vezes soltam um sorriso irônico ou armam a cara de mau e em noventa e nove por cento das oportunidades não respondem ao que de fato lhes foi questionado, depositando a culpa no elenco, no exíguo tempo de treinamento ou apenas chamam o infeliz que fez a pergunta de burro, do alto sua mais nobre e descarada arrogância. Ainda temos os senhores dirigentes, pessoas da mais alta conta que bradam aos deuses e dirigem-se tresloucados a CBF e a sua inominável Comissão de Arbitragem, quando seu time é, em sua opinião, “garfado”. Uma semana depois o árbitro amigo resolve as dificuldades de sua equipe, inventando um pênalti, expulsando um adversário por algo que ninguém jamais entenderá ou aplicando notáveis, nojentos e inacreditáveis oito minutos de acréscimo, ou até empatar como estamos nos acostumando a dizer e livra a barra do dirigente, este então cala-se ou reage lembrando de outro jogo, em mil novecentos e bolinhas, onde o mesmo árbitro prejudicou seu time. E assim vivemos na esperança de que nasçam novos fenômenos, novos baixinhos, uma nova versão de anjo de pernas tortas ou algum dentucinho fora de série para nos tirar da fila e do marasmo desse futebolzinho engessado, sem brilho e previsível dos Paquetá, Militão, Danilo e Marquinhos da vida. Viva o futebol brasileiro e que nos livrem de qualquer professorzão de Sete a Um”
Esta Coluna é dedicada a minha filha Isadora. Através do amor, ela aprendeu tanto que hoje ensina e me orgulha. Filha, toda luta, toda busca, todo esforço que são dedicados a causas nobres encontram um lugar especial e aconchegante. Tudo vale a pena, estamos com vocês.
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